Páginas

domingo, 16 de junho de 2013

Resenha do livro "Macunaíma, o herói sem nenhum caráter" de Mário de Andrade.

Autor: Andrade, Mário de. Editora: Saraiva de Bolso.

Já diziam os antigos: Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são!

Macunaíma foi a obra-prima de Mário de Andrade e, provavelmente, do Modernismo! A equação que o autor mesmo cita em um dos prefácios interessantíssimos é a seguinte: Amar, verbo intransitivo + Clã do Jabuti = Macunaíma. A obra representa não apenas os resultados de pesquisas sobre uma identidade fielmente brasileira, mas também a tentativa de realização de um projeto totalmente nacionalista. Esse ideal de nacionalismo literário surgiu em virtude dos elos étnicos, linguísticos e culturais que compunham a nação brasileira. Assim, a rapsódia Macunaíma; o Herói sem Nenhum Caráter, foi escrita em poucos dias no mês de dezembro de 1926, estando Mário de férias numa chácara da família em Araraquara. O ponto de partida foi a leitura que o autor fez da obra Vom Roraima zum Orinoco, do etnógrafo alemão Koch-Grünberg, que colheu na Amazônia (Brasil e Venezuela), um ciclo de lendas dos índios taulipangues e arecunás.

Ao ler Macunaíma o leitor faz um pacto com o narrador, com o enredo da história e com o surreal. Mário de Andrade usou e abusou da linguagem, inserindo o que tinha que inserir e até o que não tinha. Tornando assim, Macunaíma, uma leitura cansativa linguisticamente por conta dos neologismos de adjetivos e substantivos que o autor faz. É uma obra constituída por vocábulos indígenas, africanos, expressões e provérbios populares, que formam um estilo narrativo-dinâmico e irônico de representação do povo brasileiro. Que é, sem dúvidas, um povo sem cultura própria. Propositalmente, a aventura de Macunaíma dissolve a geografia do Brasil, quando o personagem segue de um Estado para outro como quem atravessa uma rua.

Uma questão que é importante ressaltar é que Macunaíma é o fundador da cultura brasileira e representa o povo brasileiro que não tem caráter definido. Cria, por exemplo, o futebol, o truco e algumas expressões populares. É um herói exemplar apenas no interior do Mato-Virgem, onde a presença dos mitos, do folclore, enfim, a sua cultura não é ameaçada pela civilização urbana e pelo progresso industrial. Este, por sua vez, ao entrar em contato com a civilização de São Paulo, perde a sua identidade cultural. (Uma analogia do autor com a civilização dos portugueses aos índios). Eu não poderia dizer que o livro é as mil-maravilhas da literatura. Apesar de ser divertido por conta dos mitos e das diversas fantasias. É truncado, monótono, utiliza linguagem simples, porém é bem rebuscada. Não é o livro que lê-se antes de dormir. Todavia é o tipo de livro que merece uma chance de ser lido uma, duas, três vezes. Macunaíma é apenas uma brincadeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário