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domingo, 16 de junho de 2013

Resenha do livro "A Metamorfose" de Franz Kafka.

Autor: Kafka, Franz. Editora: Saraiva de Bolso.

A metamorfose foi o primeiro livro de ficção que eu li. É um livro curto, tem cerca de 60 a 80 páginas dependendo da editora e não deixa a desejar. O autor usa uma linguagem simples e extrapola completamente os limites da imaginação. Logo de início o leitor se depara com uma situação um pouco estranha: ler e reler as primeiras páginas afim de entender o que sucede na descrição dos acontecimentos e não entender nada, até porque o leitor deve se inserir no quarto de Gregor Samsa, o protagonista, e tentar visualizar as cenas. Quem pega esse livro e o lê, certamente terá dificuldades, porém, fora isso, o livro no seu desenrolar é simplesmente incrível - apesar dos livros de ficção não agradarem a todos.

Contudo, o ponto mais importante não é a ficção em si, mas sim o caráter filosófico demonstrado do meio ao fim do livro. De início, confesso, não é fácil deduzir o que o autor deseja que entendamos, mas as últimas folhas do livro são, sem dúvidas, esclarecedoras e escritas naturalmente como se isso fosse uma normalidade. Por isso, como de costume, eu não farei um resumo sobre a história, pois os futuros leitores poderiam perder o interesse… Vamos à filosofia!

“Quando uma pessoa se torna um parasita?” - Essa é a pergunta que me veio a cabeça imediatamente após a última página. Penso em uma analogia não muito boa - aviso logo.

Observa-se, por exemplo, pais que trabalham arduamente para darem o que conseguem aos seus filhos, como: educação, moradia etc. O que, de certa forma, demanda bastante coragem e paciência, pois, os pais terão de acompanhar e sustentar os seus filhos durante aproximadamente 18 ou mais anos. Porém, o que se vê, é que após os filhos se tornarem auto-suficientes esquecem dos pais - quando estes deixam de trabalhar e passam a dar despesas com saúde, principalmente - e então o deixam em asilos. Outros filhos, entretanto, permanecem parasitando os seus pais para sempre.

Pfff! Essa questão é bastante frágil. E o livro aborda exatamente isso: a solidão, o sentimento de exclusão, o parasitismo etc. É evidente que, a partir da transformação de Gregor - responsável pelo sustento de sua família -, as pessoas mais próximas que deveriam apoiá-lo (o que é que seja), passam a desprezá-lo e ignorá-lo completamente. Ou seja, uma conclusão grosseira: “se você não me traz benefícios e me traz despesas, você é desprezível para mim”. É então duplamente tratado como um inseto. De tão bom, esse livro despensa apresentações e as conclusões devem ser feitas por cada um.

Resenha do livro "Macunaíma, o herói sem nenhum caráter" de Mário de Andrade.

Autor: Andrade, Mário de. Editora: Saraiva de Bolso.

Já diziam os antigos: Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são!

Macunaíma foi a obra-prima de Mário de Andrade e, provavelmente, do Modernismo! A equação que o autor mesmo cita em um dos prefácios interessantíssimos é a seguinte: Amar, verbo intransitivo + Clã do Jabuti = Macunaíma. A obra representa não apenas os resultados de pesquisas sobre uma identidade fielmente brasileira, mas também a tentativa de realização de um projeto totalmente nacionalista. Esse ideal de nacionalismo literário surgiu em virtude dos elos étnicos, linguísticos e culturais que compunham a nação brasileira. Assim, a rapsódia Macunaíma; o Herói sem Nenhum Caráter, foi escrita em poucos dias no mês de dezembro de 1926, estando Mário de férias numa chácara da família em Araraquara. O ponto de partida foi a leitura que o autor fez da obra Vom Roraima zum Orinoco, do etnógrafo alemão Koch-Grünberg, que colheu na Amazônia (Brasil e Venezuela), um ciclo de lendas dos índios taulipangues e arecunás.

Ao ler Macunaíma o leitor faz um pacto com o narrador, com o enredo da história e com o surreal. Mário de Andrade usou e abusou da linguagem, inserindo o que tinha que inserir e até o que não tinha. Tornando assim, Macunaíma, uma leitura cansativa linguisticamente por conta dos neologismos de adjetivos e substantivos que o autor faz. É uma obra constituída por vocábulos indígenas, africanos, expressões e provérbios populares, que formam um estilo narrativo-dinâmico e irônico de representação do povo brasileiro. Que é, sem dúvidas, um povo sem cultura própria. Propositalmente, a aventura de Macunaíma dissolve a geografia do Brasil, quando o personagem segue de um Estado para outro como quem atravessa uma rua.

Uma questão que é importante ressaltar é que Macunaíma é o fundador da cultura brasileira e representa o povo brasileiro que não tem caráter definido. Cria, por exemplo, o futebol, o truco e algumas expressões populares. É um herói exemplar apenas no interior do Mato-Virgem, onde a presença dos mitos, do folclore, enfim, a sua cultura não é ameaçada pela civilização urbana e pelo progresso industrial. Este, por sua vez, ao entrar em contato com a civilização de São Paulo, perde a sua identidade cultural. (Uma analogia do autor com a civilização dos portugueses aos índios). Eu não poderia dizer que o livro é as mil-maravilhas da literatura. Apesar de ser divertido por conta dos mitos e das diversas fantasias. É truncado, monótono, utiliza linguagem simples, porém é bem rebuscada. Não é o livro que lê-se antes de dormir. Todavia é o tipo de livro que merece uma chance de ser lido uma, duas, três vezes. Macunaíma é apenas uma brincadeira.

Resenha do livro "O Alienista" de Machado de Assis.

Autor: Assis, Machado de. Editora: Saraiva.
O Alienista, teve uma das suas primeiras publicações em 1882. A história ocorre em meados do século XIX e tem como centro temático os problemas da loucura. O enredo da história gira em torno do Dr. Simão Bacamarte, um importantíssimo médico que após conquistar grande respeito na sua carreira de maior médico do Brasil, de Portugal e das Espanhas, retorna à sua terra natal. Passa a dedicar-se ao estudo da ciência e alterna com as leituras. O médico casa-se com a até então viúva, D. Evarista, que não era bonita e tampouco simpática. Mas ao ver de Simão, esta poderia lhe gerar bons filhos robustos e inteligentes, que nunca chegaram.

Continua os estudos da medicina e se interessa pela neurologia, em específico a sanidade e a loucura humana. Teve a inovadora ideia de criar um Centro de Tratamento Psicológico, sendo indubitavelmente apoiado pelo governo e arduamente criticado pela vila. A medida em que o tempo passa, Bacamarte aprofunda-se ainda mais nos estudos e passa a recrutar impulsivamente mais e mais pessoas à Casa Verde - como é denominada, no livro, o asilo, a casa de Orates.

Passa a perceber que no asilo há mais pessoas do que fora dele, e começa a divagar se os verdadeiros loucos são aqueles que “gozavam do perfeito equilíbrio de suas faculdades mentais”. Passou a recrutá-los. Logo depois, passou a perceber que os cérebros recentes curados eram desequilibrados como os outros, e que em cada cérebro havia sanidade e loucura. O alienista os botou para fora. Depois dessas conclusões e de ter dado à cura aos moradores da vila, Simão não cessou e continuou a reflexionar até descobrir uma nova teoria. Achou em si, as características do perfeito equilíbrio mental e moral.

A narrativa é um pouco rebuscada, típica dos livros Machadianos. Porém é uma obra divertidíssima e prende a atenção do leitor. É um livro curto, cinquenta e cinco páginas (na minha edição) e é, de certa forma, uma prévia do que foi realmente o Realismo Brasileiro. Não deixa de ser um livro gostoso e saboroso, porém é preciso ter certa cautela ao lê-lo para notar a ironia de Machado de Assis, quando deixa implícito a hipocrisia do ser humano em pensar apenas no seu próprio prestígio e critica, também, à sociedade burguesa da época.

Resenha do livro "Ecce Homo" de Friedrich Nietzsche.

Autor: Nietzsche, Friedrich. Editora: Saraiva de bolso. 

“Neste dia perfeito, em que tudo amadurece e não apenas as uvas se tornam douradas, um raio de sol cai justamente sobre a minha vida: olhei para trás, olhei para frente, e nunca vi ao mesmo tempo tantas e tão boas coisas. Não foi em vão que hoje sepultei o meu 44° ano, era-me permitido sepultá-lo — o que nele era vida está salvo, é imortal. A “Transmutação de todos os valores, os “Ditirambos de Dioniso” e, para recriação, o “Crepúsculo dos ídolos” - tudo prendas deste ano, e até do seu último trimestre! Como não deveria estar reconhecido por toda minha vida? Eis por que a mim próprio narro a minha vida.”

Uma visão sobre si mesmo e o mundo que o cerca. Nesta obra autobiográfica, Nietzsche em seus últimos momentos de lucidez antes do agravamento da doença venérea, exemplifica-se toda a sua formação desde o seu passado até o presente e critica sem hesitação alguma a sociedade alemã, grandes filósofos, a moral e até a sua própria família em capítulos sugestivos.


  1. Por que sou tão sábio? - Relata os seus primórdios, o período do magistério, a família, a relação e a morte de seu pai. 
  2. Por que sou tão sagaz? - Relata a sua visão negativa perante ao idealismo e a religião, demonstrando que Deus - como razão de todas as respostas - é grosseria e o ateísmo é não uma consequência da racionalidade, mas sim um instinto. 
  3. Por que escrevo tão bons livros? - O autor explica detalhadamente o período e os motivos que o levaram a escrever as suas principais e mais importantes obras. Cita breves comentários sobre Karl Marx, Schopenhauer, entre outros e os contrasta com suas ideias. 
  4. Por que sou um destino? - Por fim, finaliza com sutis críticas a cultura alemã, alegando esta ser totalmente idealista, com suas palavras: indigesta, e a moral cristã como signo de decadência. Entretanto, se autoafirma como psicólogo e o primeiro filósofo trágico - cujo diferencial é dizer sim à vida - diferentemente dos pessimistas.
 Ler Ecce Homo, antes de ler outros livros desse autor é fundamental para quem deseja adentrar e conhecer a sua filosofia. Evidentemente Nietzsche foi um dos principais e mais reconhecido filósofo alemão de toda época. É caracterizado por temas relacionados à cultura ocidental, religião e moral. O livro desencadeia uma árvore que nos propõe pesquisas e mais pesquisas, pois ele constantemente cita outros pensadores e escritores. Não é um livro monótono, mas se tratando de uma autobiografia egocêntrica se torna um livro levemente chato. Eu li por curiosidade, porém não pretendo relê-lo tão cedo até eu adquirir uma maturidade que possa me conceber entendimento do fantástico Friedrich Wilhelm Nietzsche.